It girls não são, propriamente, uma coisa nova. Na verdade, diz-se que a primeira It Girl foi Clara Bow, uma atriz dos anos 20 que era a personagem principal da comédia romântica “It”, que estreou em 1927. O filme foi um sucesso, assim como a interpretação de Clara de uma empregada de loja totalmente apaixonada pelo seu riquíssimo e extremamente charmoso patrão. Depois disso, a atriz tornou-se um sex symbol dos anos 20 e a primeira It Girl de sempre.
Mas, o que quer dizer “It”, afinal?
Pode ser qualquer coisa: a beleza, o sex-appeal, o estilo, a atitude. As It girls (ou boys) são, normalmente, pessoas que se destacam e, mesmo sem quererem, são capazes de começar tendências e influenciar multidões. Não é exatamente qualquer coisa específica, mas sim um conjunto de caraterísticas que as tornam diferentes; podemos chamar-lhe carisma, se quisermos.
Obviamente, muitas destas mulheres existiram muito antes da era digital e das redes sociais e, ainda assim, foram (e são) capazes de inspirar gerações, mesmo depois da sua morte. Hoje em dia, porém, as regras são um pouco diferentes.
É possível fazer, praticamente, tudo com um telemóvel e é impossível encontrar uma tendência que não tenha nascido ou passado pelas redes sociais. As It Girls (ou influencers, como alguém as denominou) não são uma exceção. Parece que ditar tendências ou ser capaz de influenciar gerações passou a ser um trabalho a tempo inteiro, cujo nível de sucesso é contabilizado pelo número de seguidores no Instagram.
Por isso, talvez não seja assim tão surpreendente que algumas destas pessoas não sejam, na verdade, reais.
Influenciadores digitais criados através de programas de computador capazes de produzir modelos 3D são cada vez mais comuns. Eles têm um nome, uma história, aspirações, contratos com marcas de luxo e uma vida de sonho que toda a gente quer seguir. Provavelmente, não são assim tão diferentes dos influenciadores reais. Ou, pelo menos, é o que parece, à primeira vista.
Existem, atualmente, pelo menos três exemplos de It Girls virtuais com muito sucesso: Lil Miquela, Noonoouri e Shudu Gram.
Noonoouri foi criada em fevereiro de 2018 e é alemã. É modelo e fez um takeover do Instagram da Dior durante a apresentação da coleção Cruise 2019.
Shudu Gram, por outro lado, diz-se que foi a primeira modelo virtual. É africana e alcançou notoriedade mundial quando a sua fotografia foi publicada na página oficial de Instagram da marca de beleza de Rihanna, Fenty Beauty.
O criador da Shudu é um fotógrafo londrino chamado Cameron-James Wilson, que afirma que “uma modelo 3D pode não fazer desfiles, mas é uma porta-voz digital capaz de incentivar as pessoas a comprar e pode, também, ser embaixadora de marcas”.
Dito isto, Wilson fundou uma agência que representa, apenas, modelos digitais, a “The Diigitals”. Por agora, têm apenas sete modelos, incluindo o que dizem ser a primeira supermodelo alienígena: Galaxia.
Desde o seu lançamento, em 2018, a equipa da agência já criou Brenn – uma modelo negra, com curvas e estrias; Galaxia – a supermodelo alienígena; Margot e Zhi – avatars criados especificamente para pertencer ao “exército” da Balmain; Dagny – a beleza nórdica e Koffi – o primeiro modelo masculino.
Ao que parece, estes sete são apenas o início. Wilson diz que este tipo de modelos agrada ao mercado de luxo, devido ao custo e tempo que demora a produzir um avatar 3D: são precisas centenas de horas e (apenas) alguns milhares de euros. Mas, no final do processo, tudo está perfeito, exatamente como a marca pediu. E, para além disso, apenas é necessária uma pessoa para concretizar uma campanha, em vez de uma equipa de vários profissionais (fotógrafo, modelo, stylist e por aí adiante), o que diminui os custos associados.
Estamos a caminhar em que sentido, então? Alguns acreditam que, num futuro próximo, os modelos reais apenas serão precisos para desfiles ou eventos promocionais, enquanto outros afirmam que acabaremos por criar um sistema híbrido. Neste segundo cenário (e mais provável, se me perguntarem a mim), os modelos reais e as celebridades podem vir a ter o seu próprio avatar digital, o que lhes permitiria estar em dois sítios ao mesmo tempo: a pessoa real pode estar a desfilar em Paris, enquanto o seu avatar pode estar a promover um novo produto em Tóquio, por exemplo.
Todavia, há sempre um lado negro. Renee Engeln, psiquiatra e professora da Universidade Northwestern, afirma que estes modelos, criados de acordo com versões extremas e sintéticas de beleza, podem intensificar expectativas irrealistas que, principalmente as mulheres tendem a desenvolver. Estaríamos a comparar-nos com caraterísticas que não são reais e, por isso, impossíveis de alcançar.
A meu ver, estamos ainda longe de descobrir quais os verdadeiros impactos desta tendência, tanto para a indústria da moda, como para a sociedade, em geral. E, portanto, acredito que a chave é mantermo-nos abertos a todas as possibilidades, mas nunca esquecendo que o que uma pessoal real pode trazer para o mundo não é comparável, em nenhum aspeto, com o que um avatar pode.
Virtual It girls (yes, not just Digital)
It girls are not a new thing. Actually, the first It girl is said to have been Clara Bow, an actress from the 20s who stared in the romantic comedy “It”, back in 1927. The film was a huge success, as well as Clara’s role as a shop girl who has a crush on her handsomely rich boss. After that, she became a sex symbol of the 20s and the first ever It girl.
But, what is “It”, then?
It can be anything, really: the beauty, the sex-appeal, the style, the attitude. It girls (or boys) are usually someone who stands from the crowd and, even without knowing it, starts trends and influences people. It is not something we can point our fingers at, it is the whole package, what someone once called charisma.
Obviously, these women have existed way before social media and the digital era and still they have been inspiring generations even after their deaths. However, nowadays, the game has changed a bit.
Everything and anything is made with a digital device and it is hard to find a trend that has not passed through social media. It girls (or influencers, if you please) are not an exception. It seems that being It is turned into a full-time job with its level of success measured by the number of followers on Instagram.
And so, I guess it is not that surprising that some of these girls may not be real.
Virtual influencers created by computer programs capable of making 3D models are becoming more and more common. They have a background, aspirations, contracts with high fashion labels and a dream life everyone wants to follow. They’re not that different from the real ones, actually. Or, at least, it is what it seems.
There are, at least, three great examples of successful virtual It girls: Lil Miquela, Noonoouri and Shudu Gram.
Noonoouri was born in February 2018 and she is from Germany. She is a model and did an Instagram takeover for Dior, during the presentation of the Cruise 2019 collection.
Shudu Gram, on the other hand, is said to be the first virtual supermodel. She is African and got famous when her photo was published on the official Instagram page of Rihanna’s beauty brand, Fenty Beauty.
The creator of Shudu is the London-based photographer Cameron-James Wilson, who claims that “a 3-D model can’t walk down the runaway for you, but they can be digital spokespeople that help you shop or serve as the face of your customer service”.
Maybe because of this belief, Wilson is the founder of “The Diigitals”, an agency that represents (if we can even say that…) only virtual models. For now, they only have seven models, including what they call the world’s first alien supermodel: Galaxia.
Since its launch, in 2018, “The Diigitals” team has created Brenn – a dark skin model with feminine curves and realistic stretch marks; Galaxia – the alien supermodel; Margot and Zhi – avatars tailor made specifically to join Balmain army; Dagny – the Nordic beauty and, more recently, Koffi – their first male model.
For what it seems, these seven (also including Shudu) are just the beginning. Wilson says that this kind of models appeal to the luxury market because of the cost and time it takes to produce a 3-D avatar: a single model takes hundreds of hours to produce and can cost up to thousands of dollars. But, in the end, everything looks exactly like the brand requested. And in, addition, instead of having to hire a team of professionals (photographer, model, stylist and so on), the brands can only hire one single artist to create the images, which would cost way less.
Where this will lead us, then? Some believe that, in the near future, brands will only need human models for the actual runaway or promotional events, while others think that we are heading to a hybrid system. In this second (and most likely) future, real models and celebrities may license out their digital avatar, which would allow them to basically be in two different places at a time: the real model may be walking down the runaway in Paris and her avatar may be promoting some new and exciting product in Tokyo, for example.
Nevertheless, there is always a dark side and here is no exception. Renee Engeln, a Northwestern University professor and psychologist who studies body image, says that these models, which are created according to extreme and synthetic versions of beauty, may intensify the unrealistic expectations (specially) women believe they must live up to. People all over the world would be comparing themselves to something that is not real, and, for that reason, it is not achievable.
We are still far from discovering the real consequences of this new trend, both for the industry and the society, in general. And so, for now, I guess the key is to keep our mind open to all possibilities, but never forgetting that what an actual person can bring to the world is not comparable in any way to what virtual people can.
Mariana Faustino