Damn it Vogue. O que muda?

Estão aqui por casa duas Vogues de 2005. Uma de Fevereiro outra de Março, uma Portuguesa a outra Italiana. A primeira comprei por 3,50€, a segunda, foi a única oferecida em 15 anos, o que significa que, em revistas estrangeiras e portuguesas vão, até ao dia de hoje, largas centenas de euros. Comprar a Vogue todos os meses é rotineiro. Mentia se dissesse que a trago para casa e a devoro em algumas horas. Não, de todo…algumas nem abro. Ficam alinhadas com os seus pares, as estrangeiras a servir de mesa de apoio, as novas, de aba preta, em cima da mesa de centro. Outras, sempre organizadas por datas (OCT much?), estão arrumadas em móveis ainda com amostras de cremes e perfumes coladas nas folhas e que, provavelmente, nunca irão ver a luz do dia…Portanto, para mim, a Vogue é hoje em dia, uma escolha de gasto mensal, sem grande utilidade além de objeto decorativo, mas também uma pequena âncora a um estilo de vida que se construiu numa altura em que a moda também se lia. Uma altura em que as tendências não se ditavam no Instagram e as modelos tinham caras sem filtros de sardas mas muito photoshop.  Escrevo sem saudosismos, este novo mundo está sempre cheio de novidades. Cada refresh do feed traz novas cores, novos lugares e claro, o último lançamento de Bottega Veneta. É um lugar vibrante e criativo do qual ninguém quer ficar de fora apesar de, cada vez mais, precisarmos de o filtrar.

É também a isso que este “novo” Damn it se propõe. Depois de muito tempo sem novos artigos, aqui está o primeiro de 2020, que vem acompanhado de uma mudança de layout e de logótipo. Uma alteração pequena porque, afinal, a identidade é a mesma. Sai a exclamação que dá lugar a um ponto final, não de fim (nunca de fim) mas de respeito e introspeção por tudo o que significa o digital face ao papel. Quantos artigos ainda cabem na Vogue? Quantos issues nos trouxe e quantos resolveu? Quantos interessam realmente se não houver alguém que os mostre vestidos e vividos num story de 15 segundos?

Arriscaria dizer que, se assistimos e mostramos a nossa vida quase em tempo real, no ecrã do telemóvel, então todos somos produtores e encenadores, todos somos comerciais e agentes da nossa imagem. Somos uma revista e o nosso conteúdo é da responsabilidade do nosso editor que, está claro, somos nós. Sejam por isso, bem vindos de volta à Damn it Vogue, uma revista que também será de quem se quiser mostrar, desde que seja, claro, time worthy 😉