Sabíamos que a Filipa ia colaborar connosco. Bem antes de lhe fazermos a pergunta, e ela ter dito que sim, era óbvio que tínhamos de conseguir. As fotos dela enchiam o feed do nosso Facebook de scouting e pareciam melhorar de dia para dia. Esta miúda de quase 23 anos, tem um talento gigante para a fotografia e…para ser fotografada. No entanto não foi para nós que posou. Quando lhe perguntamos se podíamos marcar a sessão, respondeu que ia ser complicado até Junho porque não ia estar na cidade. Vivemos alguns segundos de pânico. Queríamos que a sessão dela fosse a primeira! Mas a solução veio logo de seguida: “ Tenho alguns auto-retratos meus que talvez pudessem usar…” Auto-retratos? Dois em um? Ela fotografa e posa para as próprias fotos? A Filipa foi um superar de expectativas constante e, se já conhecem alguns trabalhos dela, aproveitem a entrevista para se surpreenderem também.
A nossa primeira #DamnitGirl #Talent edition : Filipa Saldanha – Behind the lens.
Damn it Vogue – Filipa, começamos com a pergunta cliché: preferes fotografar ou ser fotografada?
Filipa Saldanha – Quem já me conhece sabe que não consigo decidir entre uma delas, como costumo dizer, adoro a minha máquina nos seus 360º, a junção perfeita acontece quando me fotografo a mim própria, sem dúvida!
DiV – A Fotografia é obviamente uma paixão para ti. Como surgiu?
F.S. – Tenho esta paixão comigo desde que me conheço como gente. Cresci com os meus pais a fotografarem cada passo meu, cada queda, cada risada, cada tolice, e logo lhes comecei a seguir as pegadas quando às escondidas lhes roubava a máquina fotográfica para fazer das minhas. Posso, por isso, dizer que foi amor à primeira “foto”!
DiV – Quais são as tuas referências na fotografia? Por outras palavras: quem segues no Instagram?
F.S. – Tenho três grandes referências no mundo da moda, portugueses por sinal, que sigo no Instagram, são eles: José Ferreira, Nuno Oliveira, Gonçalo Claro.
DiV – Moda e fotografia, não fazem sentido uma sem a outra?
F.S. – Para mim são duas áreas que nasceram de mãos dadas, até porque uma das minhas paixões é a fotografia editorial.
DiV – Como é a tua relação com a moda?
F.S. – Não sou uma pessoa muito “normal”, digo isto porque não sigo tendências, nem estilos pré concebidos, visto-me para mim e conforme me sinto melhor, embora tenho noção que há vezes que chamo um pouco mais à atenção pois saio dos padrões “normais” existentes na sociedade. Mas para mim a moda é isso mesmo, diversão ao vestir e ao criar o próprio look, fantasiar, criar mistério, jogar com as cores ou produzir a sintonia perfeita entre os pretos e brancos. Acho fundamental as pessoas começarem a fugir ao padrão e criarem-se a elas próprias!
DiV – A tua sessão é especial porque foste tu que te fotografaste. Qual é a tua relação com o teu corpo?
F.S. – Pode parecer que não, mas tocámos num ponto fraco meu. A minha relação com o meu corpo, ao contrário do que pode parecer, não é a melhor, tenho imensas inseguranças e sem dúvida mais “não gostos” do que “gosto bastante”. Mas é esse o motivo que me leva a fotografar-me, gostar mais de mim, sentir-me mais confiante, mais segura. A fotografia cria tudo isso por si só.
Pessoas que fotografo dizem, tu fazes milagres, mas não, eu limito-me a retratar a confiança e a autoestima muitas vezes perdida nelas, mas que se encontra presente apesar de não se darem conta. Essa é desvendada, muitas vezes, a partir de um olhar, de um sorriso, e de simples gestos, é esse lado que eu vou sempre querer mostrar, é esse o verdadeiro poder da fotografia!
DiV – Falas em inseguranças, mas superaste com um sorriso nos lábios uma descoberta não muito agradável já em adulta…
F.S. – Sim, sou diabética há cerca de 2 anos, e na altura escrevi um pequeno texto de motivação no meu Instagram:
“Não tenho que esconder porque agora esta doença sou eu, e tenho de aprender a lidar com ela como sendo parte de mim tão importante como outra qualquer. Não vou mentir e dizer que não tenho saudades do antes, dos meus apenas 50Kg, da minha barriga lisa, dos meus doces, dos meus horários loucos e tão confusos que me preenchiam a agenda conforme lhes apetecia no momento. É verdade que isso me deita abaixo e por vezes ainda não sei bem como lidar com estes imprevistos. Mas existe um outro lado, aquele que me ensinaram a ver desde pequena. Cresci com orgulho desta minha visão solta de previsões e falsas certezas, pois a segunda versão existe em qualquer história, mesmo que encantada, e o que realmente interessa é que custe o que custar eu vou voltar a ser a mesma pessoa que era, mesmo sem horários confusos, mesmo com mais uns quilinhos extra, com a minha responsabilidade acrescida que esta fase obriga a ter, mas tudo se irá compor, até doces vou poder comer, embora que de forma moderada. O que importa é que todas as alterações pelas quais a vida nos obriga a passar têm o seu motivo e são com toda a certeza as alterações que nos fazem falta para nos tornarmos naquela pessoa que em pequenos sonhávamos ser! Porque nada acontece por acaso, os acontecimentos procuram apenas uma razão para se sentirem válidos e nós damos-lhes motivos para se orgulharem da sua validade! O nosso dever é apenas lutarmos por sermos nós mesmos!”
E hoje, aqui estou eu, passado mais de um ano, e posso garantir que me sinto como nunca e sem dúvida feliz, porque sou melhor versão de mim mesma!
DiV – Quais as tuas expetativas em relação à tua atividade profissional? A Fotografia vai fazer parte do teu futuro?
F.S. – Gosto muito de viver no presente, sem pensar no passado e muito menos no futuro, sei que estou bem agora ao fazer aquilo que gosto, neste momento dedico-me a 100% à fotografia, um dia quem sabe serei produtora de eventos, ou diretora de comunicação numa empresa, não podemos prever o que a vida tem para nos dar por isso limito-me a aproveitar o melhor do “hoje”!
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